sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Kamchatka

Existem 3 coisas que os meus amigos consideram deveras complicado discutir comigo, por diferentes razões.: futebol, musica e cinema. Futebol porque sabem que sou demasiado benfiquista para aceitar a possibilidade de alguém, no seu perfeito juízo, poder ser adepto de uma qualquer agremiação em vez do Clube; música pois sabem que tudo o que sai fora do espectro indie-alternativo não me interessa nem para elogio fúnebre ao pastilhas do lumiar; cinema porque recuso logo à primeira qualquer americanice (excepto raríssimas excepções) e só tenho referências cinéfilas na Europa, América do Sul ou Ásia.

Foi neste último espectro, o da 7ª arte que cairam os meus pensamentos quando ontem li que em Valência se pretende dar o nome de Pablito Aimar a uma rua. Naquele momento a minha cabeça recuou a um terno filme argentino de Marcelo Piñeyro (na realidade, até o mais facinora filme de guerra da America do Sul consegue dilacerar o coração do machão mais orgulhoso) de seu nome "Kamchatka" que, traços gerais, roda à volta da vida na clandestinidade durante a ditadura da Junta Militar, de um casal comunista e seus 2 filhos.

Ora nesta longa-metragem (momento Lauro António) não raras vezes pai e filho são levados a jogar ao popular jogo de tabuleiro "Risco" noites a fio, sendo destacado o facto de o jovem jamais ser capaz de vencer o progenitor. O mais perto que está de sair vitorioso é na última vez em que jogam, tendo contudo o mais velho resitido aos ataques, refugiando-se na provincia de Kamchatka. Já a terminar o enredo, a familia é obrigada a separar-se e neste momento o pai segreda algo ao filho, qualquer coisa como "em momentos de aflição e quando te sentires apertado, recua sempre para Kamchatka... é o último refúgio" (não é bem isto, mas juro que é mais ou menos e o significado é o mesmo).

Foi por este conselho que me lembrei do filme quando soube da hipótese de vir a existir uma Calle Pablo Aimar. Vai ser a Kamchatka dos amantes do futebol perfumado a classe e talento, quando o desporto rei for definitivamente invadido (como vai ser) pelos brunos alves, joãos pereiras, maicons e olberdans que já por ai andam a anunciar a instauração de uma nova ordem futebolística. É para a Calle Pablo Aimar que todos nós iremos a correr em busca de refúgio...

21 comentários:

TRFA disse...

Provavelmente um dos melhores últimos posts. Confesso que quando vi o título me lembrei imediatamente do "Risco". Ainda "acardito" que no futebol há espaço para Aimares, que são quem leva a malta aos estádios.

Anónimo disse...

Tempo! Os Aimar desta vida regressarão de Kamchatka mais fortes!

lawrence disse...

No dia em que tivermos que nos refugiar na "calle Pablo Aimar" estaremos a aceitar uma derrota!
Prefiro um túnel!
É que ao fundo haverá sempre uma LUZ!
E não ao contrário, como "esses" que nos querem derrotar tentar fazer crer!

David Duarte disse...

Constantino, no cinema americano sempre tens o Chaplin! Mas é verdade que ultimamente não tem feito grande coisa...

Constantino disse...

O Chaplin não tem feito grande coisa ultimamente porque quando os realizadores lhe ligam a convida-lo para um papel... o gajo não diz nada...´é um rapaz muito caladinho.

Osvaldo Manso disse...

Não te sabia amante do Cinema, assim com C maiúsculo.
Evita o preconceito, pois apesar de muito filme da treta, na América do Norte (não só dos EUA) há bom cinema de autor: Kubrick, Scorsese, Lynch, Cronenberg, P.T. Anderson, Carpenter, Shyamalan... Já para não falar nos velhos mestres Ford, Hitchcock, Nick Ray, Hawks, etc etc.

Quanto ao Aimar é, para mim, o protótipo do jogador que nasceu com um dom para o futebol mas que não está para se chatear muito. Se quisesse mesmo poderia ser um dos eternos e inesquecíveis, assim apenas o será para os mais atentos, como nós.

Anónimo disse...

Pois eu quando li o titulo, veio-me a memoria essa iguaria de Kamchatka que e o seu caranguejo e a beleza da regiao.

by the way, por aqui estao -25 graus (sim, essas vagas de frio que por ai se anunciam e assim uma especie de Primavera por aqui). O glorioso que se cuide, porque parece-me que daqui a duas semanas nao estara muito melhor.
Red Square - Moscovo

Osvaldo Manso disse...

É pá, esqueci-me do Clint Eastwood! Imperdoável...

Ricardo disse...

Estou ali com o Manso, há muita coisinha boa no cinema americano. É preciso é primeira limpar a mesa da merda toda que todos os dias nos invade. Depois, no meio, há pérolas escondidas. Muitas.

Mas já sei o que vou levar quando for ao Barrinhos: tenho aqui uns filmes argentinos que são do melhorzinho que há. Avisa o Barrinhos que, em vez de bola, vai começar a fazer sessões de cinema. Vou a caminho...

Ricardo disse...

Eu gostava não de uma calle, não de uma ciudad, mas de um país Pablo Aimar.

Estou disposto a mudar os trapinhos para lá.

O Lawrence pode ficar sozinho a lutar contra moinhos de vento e moinhos de merda. Só não fique no ângulo errado.

Constantino disse...

Ricardo,

No intervalo do feirense-SLB o dono do Barrinhos mudou de canal para ver como estava o villareal-barcelona e houve quase um motim (repito, intervalo) e tu queres interromper a bola com filmes? Não assumo responsabilidades, olha que há ali gente que nem o cebola nem o otamendi se aventuravam a enfrentar.

De qualquer forma, de todos os filmes que podes trazer, da america latina são os unicos que podem ter hipotese de sucesso... Barrinhos é de venezuelanos.

Abraço

Ricardo disse...

Ah é? Imagino o belo sotaque venezuelano com algarvio. Deve ser bonito, deve.

Unknown disse...

Eu estou em greve contra o Barrinhos por causa de estarem fechados ao domingo

David Duarte disse...

Por falar em cinema argentino, Fernando Solanas, Memorias del saceo.

Com este documentario compreendemos que a crise europeia actual é igual à da Argentino no inicio dos anos 2000. Os mesmos processos, as mesmas incoerencias (como por exemplo utilizar, para resolver a crise, o mesmo modelo que nos... meteu na crise). Muito bom filme que muito ocidental deveria ver.

João Duarte disse...

Ganda Tino, pá!!!!

MAs não entres em desespero. Não há uma nova ordem no futebol.

Há sempre espaço para a inteligência e a classe no futebol.
Não acredito que acabem os Aimares, haverá sempre quem nos levante do lugar sempre q levantar a cabeça.

Jotas disse...

Brilhante texto para retratar o perfume que Aimar espalhou e espalha nos relvados.

Unknown disse...

Não é um Mago ou o Deus, mas vi o Valência-Barcelona e gostei bastante do Banega, mais uns aninhos em cima e poderá dar um grande 10 para o Benfica, embora os otários do Valência o usem a 8

Diego Armés disse...

Bravo! Bravo!

xirico disse...

Para mim é Deus no céu e Aimar na Terra(e já agora Jesus no banco).

Vitto Vendetta disse...

Concordo com os amigos ali de cima. No cinema (norte)americano podes encontrar muitas pérolas, não desdenhes à partida. Quando falas em musica, indie/alternativa, estás a falar de coisas hipsters, né? Ouve um jazz de vez em quando ou até umas boas produções de hip-hop de detroit ou da Stones Throw que vês que isso te passa. :)

Quando vi essa notícia da rua de Aimar, imaginei logo a rua de minha casa com esse nome. Nunca mais me mudava daqui, for sure.

Anónimo disse...

bruno alves, joao pereira, maicon e javi garcia n? o benfas reles em toda a sua hipocrisia