Quando "Meta-físico" é uma ordem

Na lista dos maiores impostores da Humanidade existe um lugar guardado para Marty Mcfly e Emmet Brown por terem convencido uma geração de jovens de poupas altas, Nikes gigantes e enchumaços nos ombros para aguentar o peso da estereofonia que emitia em alto som músicas de gosto duvidoso, de que seria possível caminhar no tempo, tal como o Salvio caminha entre o lateral e o central... mais depressa do que num skate planador. Hoje sabemos que o tempo é uno e consecutivo. O tempo veste uma t-shirt com a cara do Uncle Sam e os dizeres "Para a Frente é que é Caminho", por muito que a "frente" do americano seja mais uma vanguarda belicista. Houvera a possibilidade de viajar no tempo como quem apanha o Inter-Regional da Linha da Beira Baixa e certamente algum descendente de visconde já teria recuado até ao inicio do séc. XX para cantar hosanas ao campo grande football club com os bolsos cheios de paralelipipedos de calçada para atirar à carantonha do sr. zé alvalade a fim de lhe manter na boca aquela ideia peregrina de ser maior que os maiores da Europa.

Conquanto a velha história de "dar um passo atrás para dar dois à frente" só possa ser executada andando 3 passos para a frente temporalmente, a tentativa de imitar o passado é tremendamente exequível, por muito que perigosa pois a esta aplica-se o fundamento do Efeito Borboleta... qualquer ínfimo pormenor que decorra fora da normalidade assume dimensões catastróficas. Só para que se entenda onde quero chegar, em 1980 na Póvoa do Varzim um casal brasileiro sorriu perante o nascimento de um pacato e adorável rapaz a quem deram o nome de Geraldo. Vendo a placidez do jovem, os pais decidiram repetir a dose e fizeram tudo quase, quase, quase, quase igual... o ligeirissimo "quase" resultou que um ano mais tarde fossem presenteados com um demónio sarrafeiro a quem deram o nome de bruno. Um erro diminuto e indetectável e ei-los a braços com um castigo divino e imerecido... nem o carroceiro do washington merecia aquilo..

O cálculo das diferentes equações que podem levar à repetição de um momento feliz não é complicado mas exige qualquer coisa como, pelo menos mais que 3 neurónios (e catrapim, assim se explica o porquê dos lagartos não conseguirem repetir títulos) que é matéria prima que eu parto do principio que existe nos corredores da Luz... mas nem sempre tenho essa certeza... que é o que me acontece agora, quando vejo o SLB tentar emular uma temporada de futebol técnico, avassalador e espectacular como foi a de 2009/10, colocando o físico no lugar da técnica; a estrica no lugar da velocidade; ou o instinto no lugar da inteligência. O sapato de cristal onde cabia o pé aveludado de Aimar entra agora o patagão enzcremento; a equipa que Di Maria carregava com magia Sálvio traz às costas com vontade; onde Saviola se revelava o feiticeiro do 2º poste residem apenas 2 postes; onde Luis Filipe vegetava com um olho no burro e outro no cigano (literalmente) eclodem agora os sacos lacrimejais do Djaló; onde há 3 anos redundavam as rugas faciais habitam agora poderosos lençóis de pele firma e hirta. Não resolveram os defeitos, alteraram o feitio... 

Como acontece no caso dos jogadores, também as alterações de estilo são como os melões... só depois de executadas é que se sabem os efeitos. É esperar que a mudança de estilo de jogo do Glorioso seja mais Garay que Beto, mais Aimar que Pringle, mais Preud'homme que Dias Graça, mais Eusébio que Leónidas. Neste caso espera-se que o Efeito Lepidoptera se transforme em Efeito Accipitridae e que a cada bater de asas da majestosa ave de rapina correspondam tragédias holocausticas nas hordas defensivas adversárias. Acima de tudo façam-me desejar nunca ter batido palmas a uma revienga, nunca ter dito "elah, isso não se faz" a uma cueca (calma meninas, não estou a falar das vossas), nunca ter desejado dar mais de 10 toques seguidos na bola... que continuo a desejar como uma criança deseja aquele Action Man que nunca teve (estarei eu a referir algum desejo recalcado?). Carrega técnica da força... e Jesus... mete ainda mais físico nisso.