Resultadismos (ou apenas um post aborrecidamente longo)

A nobre arte do resultadismo desportivo é bem capaz de ser, de entre as coisas subvalorizadas, aquela que mais felicidade trouxe ao Mundo. Quando bem executada agrada aos adeptos do resultadismo, pois são adeptos da arte, tal como aos adeptos do futebol espectaculo porque, mal por mal, ao menos ganhou-se o jogo e não é preciso espetar uma carga de porrada na mulher, o que parecendo que não, é bastante positivo pois é da maneira que se deixam as feridas feitas nos nós dos dedos sarar para dias de piores resultados.

No que respeita ás diferentes vertentes da abordagem ao jogo eu assumo-me como sendo bipolar, tal como sou em quase todos os assuntos mundanos. O próprio facto de me recusar ir ao médico por me considerar saudável e aqui me afirmar bipolar, vem dar razão ao meu argumento. A nível desportivo a minha bipolaridade é bastante útil pois permite-me estar sempre do lado certo: sou resultadista quando não jogamos um tremoço e ganhamos (como agora acontece); sou pelo futebol espectáculo quando não jogamos pincel e perdemos. Basicamente eu posso sempre dizer: pois, era o que eu dizia.

Na essência sou um gajo extremamente resultadista e adepto do futebol pragmático. Se me perguntarem, digo que tenho uma tatuagem na omoplata que diz "Catenaccio4Ever". Pertenço àquele grupo de adeptos que teve 4 orgasmos quando soube que o Trapp era treinador do SLB. Contudo o resultadismo que defendo, deprime-me durante os jogos, pelo que palavrões e pontapés em tudo o que está imovel são procedimentos recorrentes da minha parte, durante um jogo do Glorioso. Portanto, pertenci ao Grupo de Adeptos Incondicionais do Trapp antes e depois dos jogos, ao mesmo tempo que era sócio do Grupo de Adeptos Assobiadores do Trapp durante os jogos.

A minha pancada para com o catenaccio advém da minha admiração pelo Milan holandês dos anos 90, o que só por si é uma incongruência. Para que os mais novos tenham noção desta idiotice, basta dizer que só por 2 vezes Itália viu 2 coisas absolutamente antagónicas coexistirem num mesmo espaço físico durante um determinado espaço de tempo: Milan e catenaccio no futebol italiano na primeira metade dos anos 90; Sua Santidade o Papa e a stripper/escritora do papa pitas no Vaticano durante 10 minutos em 2003. Mas eu adorava o jogo daquele Milan (holandeses defensivos... só eu catano, só eu) e tinha ouvido dizer que os italianos tinham o catenaccio (na altura a informação não era tão acessível como agora). Portanto eu passei a adorar o futebol matreiro e resultadista. Basicamente eu dizia "sim senhores Milan do Gullit, Van Basten e Rijkaard" e "não senhores à Holanda de Gullit, Van Basten e Rijkaard" (como sempre direi a uma equipa que tenha alguém chamado Van Tigelen)... era esperto eu...e a mania ficou.

Falo destes 2 exemplos, porque pretendo chegar ao SLB de Jesus. O actual treinador do SLB chegou ao clube alçapremando-se no epiteto de "Cruijf da Amadora" adepto do futebol ofensivo. Chegou e começou a atropelar gente com futebol de ataque na primeira metade do campeonato. na segunda metade e especialmente após braga, viu que precisava ter um pouco mais de cuidado e passou a dar redea larga nos jogos pequenos e a encurta-la nos jogos grandes (braga e lagartos na Luz são disso exemplo). Chegou ao fim campeão e a malta viu nele a reencarnação de Eriksson, mesmo tendo em conta o bigode demasiado ralo do Di Maria quando comparado com a farfalhudês do lábio superior chalaniano. Veio a 2ª epoca e ele achou que Eriksson estava obsoleto e tratou de dar uma de Camacho, com futebol de ataque à holandesa suportado por uma dinâmica defensiva digna de umas Ilhas Tonga. Os resultados por acaso acabaram por ser à fernando santos "ai ai ui ui que estamos a lutar para ganhar tudo.... mas na realidade não estamos a lutar para ganhar nada". E eis-nos chegados ao SLB de Jesus III...

Para este ano, JJ mandou às malvas  tudo o que lhe pudesse trazer à ideia o Jota holandes e olhou para Itália como o modelo a seguir. Tratou de arranjar um guarda redes que tem noção de como fazer uso adequado do par de luvas que tem nas mãos; aproveitou a venda de um jogador para arranjar um central tecnicista sem a mania que é Aimar; e viu que por muito que Javi Garcia tivesse um penteado espectacular, capilarmente o meio campo do SLB estava em défice acentuado, garantindo Witsel para a função. Com 3 passinhos apenas, JJ fez a equipa de sonho de qualquer resultadista que se preze, e colocou-a a jogar um futebol falho de entretenimento (já há quem leve desfibrilhadores para o estádio), como se pede a qualquer equipa resultadista, que, cumprindo a sua sina, vai ganhando jogos quando vê que os pode ganhar e empatando quando vê que os pode perder. E é este último ponto que a mim me dá esperanças de titulos: JJ já sabe quando corre o risco de perder!!!

No seu todo, este post pode ser um longo, obtuso e destrambelhado aplauso ao fracasso e a falta de ambição? Pode concerteza, mas também este apenas reflecte a minha opinião antes e depois de uma vitória. Durante o jogo quero é futebol espectáculo.