O adepto benfiquista é reconhecidamente um indivíduo de exigência espartana, especialmente no que se refere à avaliação dos rapazes a quem a vida presenteia com a suprema sorte de poder entrar na sagrada relva da Catedral envergando a rubra camisola Gloriosa, com o símbolo da águia dourada e altaneira ao peito e uma roda de bicicleta a emoldurar-lhe o mamilo esquerdo, qual aureola a decorar o couro cabeludo daquele cuja existência se deveu a uma gravidez por geração espontânea, símbolo este que fica estrategicamente colocado para ser beijado após conclusões vitoriosas de espectaculares e estonteantes jogadas de equipa ou em casos extremos, para carimbar no peito de um árbitro. Contudo, apesar de os níveis de exigência serem universais no Terceiro Anel, a percentagem de aplicação dos mesmos varia consoante o atleta em questão.
Estas diferenças ao nível da aplicabilidade da exigência têm como motivo as próprias características da opinião, que para além de ser bastante pessoal, é também volátil, tornando-se a modos como as vaginas... sempre em risco de serem violadas. Por isto é comum um jogador passar de "novo Eusébio" a "novo Akwá" em questão de segundos. Mas é também por isto que para uns Roger era o "novo Maradona" e para outros "um mimalho carioca propriedade dum invasor de treinos chamado vitor "bibi" santos". Assim se explica que entre a massa associativa e adepta haja quem olhe para craques de qualidade inquestionável e os veja como polgas, sendo os casos mais evidentes o do "Gary Lineker português" (com a diferença de não ter um antro de alcoolismo em Albufeira) e portador do nome de baptismo mais "este filho vem em má altura, o que eu queria mesmo era um Pastor Alemão" Tamagnini Néné, o da Maria Amélia, conhecido outrora, em tempos de bom gosto em pronto-a-vestir e quando não era progenitor de uma miúda portista, como Nuno Gomes e claro o mais recente caso divisionário, o do molengão e tosco melhor marcador estrangeiro do clube e terceiro melhor marcador nas competições europeias ao serviço do Máiór do Mundo, e já agora, vencedor do prémio "Jogador Cuja Cidade Natal Tem o Nome Mais estranho" Óscar Cardozo filho pródigo da cidade paraguaia de Doctor Juan Eulogio Estigarribia.
Do lado contrário, aquele povoado pelos clones de cepos de pinheiro nórdico que na Suécia são utilizados para fazer móveis do IKEA, mas que na Luz são vistos como belíssimos exemplares do que devia ser constituída a totalidade da nossa equipa, também há casos de evidente bi-polaridade nas bancadas. Sem perder muito tempo a pensar nisto, refiro os casos: do supra citado Roger que entre duas ou três corridas a cumprimentar o vitor "bibi" santos a meio de um treino e menos vontade de jogar que o Gaitan depois de levar uma carga de porrada do Jardel; daquele lateral minúsculo que em 3 ou 4 épocas no SLB se limitou a 2 cruzamentos para a área adversária e toda uma variedade de habilidades técnicas de nome Leo; ou, só para terminar Fernando Aguiar que para além de tratar constantemente a bola como os super dragões tratam os jogadores do seu clube que não cumprem com as indicações do papa pitas, ainda teve tempo para andar à estalada com o Armando "eu falo sem abrir a boca" Teixeira, mais conhecido por Petit. Não há como esconder, todos adoramos os craques, mas temos sempre um nabo preferido.
Como adepto, não fujo à regra e também tenho um "camionista feito jogador do SLB durante um breve período da sua vida" preferido e trata-se na verdade, de um dos jogadores com menos classe e qualidade técnica que já colocou os pitons na Luz, incluindo adversários. Apenas com esta pequena discrição, os que o viram jogar já sabem quem é. para os que não viram, tenho três nomes que muita lágrima fizeram escorrer na Catedral... Marcelo Santos Cipriano... o homem que veio de St. Tirso em 95/96 por ordem daquele cujo nome não se deve mencionar, para fazer dupla de ataque com outro mito dos golos falhados à boca da baliza, Hassan Nader (o homem que deu corpo à piada "então o que fez o Hassan no jogo de hoje?"... "não fez nader...") e partilhar o banco de autocarro com a única pessoa do plantel com quem ele podia falar acerca daquele corpo estranho que saltitava em campo, chamado bola... o Paredão...
A passagem do Marcelo pelo Glorioso tinha tudo para ser catastrófica, mas num ápice e talvez porque na verdade o tipo parecia ser trabalhador honesto, tornou-se num pequeníssimo conto de fadas, aplicado à Taça de Portugal, visto ter sido ele a cataputar o Meu Clube até à final graças a dois golos que entraram para os anais da história (calma crianças, anais da história não tem nada a ver com o traseiro da Cicciolina). O segundo (sim, começo pelo fim) foi nas meias finais contra o Leiria (quando eles pagavam ordenados... foi há tanto tempo) numa jogada de Hélder pela direita, onde sai o cruzamento rasteiro que encontra Marcelo sozinho, de baliza aberta na pequena área. Vendo-se neste cenário e fazendo alarde de uma capacidade técnica invulgar (eu só a voltaria a ver quando no circo vi meterem elefantes a jogar à bola) mete a parte de dentro do pé direito de encontro à bola e a atira à barra... para depois entrar. Não recordo se foi o 1-0 se o 2-0, mas gravei na minha memória o momento em que as caras de milhões de benfiquistas passaram do esbugalhamento ocular aterrorizado para o cerramento de pálpebras agradecido a São Eusébio numa questão de milésimos de segundo.
Mas a sua coroa de glória, o momento que o tinha tatuado no meu coração já havia acontecido nos quartos de final da competição, quando ele desbloqueou o jogo com o guimarães de forma tão meritória quanto pouco ortodoxa: novamente em apuros, o SLB vê um seu jogador cruzar rasteiro da direita. Na grande área, num movimento "à ponta de lança" que ele não era, Marcelo desenvencilha-se do seu marcador e quando a Luz se começa a levantar para festejar o remate de pé direito vitorioso, deslumbra-se ao ver aquele latagão luso-brasileiro de Niterói que nunca havia jogado na selecção portuguesa apesar de ele constantemente se achar com nível para tal, lançar-se em salto de peixe, colocando a cabeça onde ninguém colocou o pé... no chão... para cabecear para golo. Meros cinco segundos depois Marcelo aparecia em frente às câmaras a festejar, com tufos de relva a decorar-lhe a cremalheira de marfim, tufos esses que seriam mais tarde aproveitados para fazer o presépio de natal. Naquele momento o nosso avançado provava, sem direito a favores, que o tipo com menos técnica nos membros inferiores que já vestiu o Manto Sagrado, era também um dos que mais jogo de cabeça tinha... mais tarde mudei de opinião quanto a esta avaliação quando no verão de 2005 presenciei ao vivo uma conversa sua com o fernando mendes (o toxicó-doping, não o gordo) em que o primeiro dizia para o segundo "agora qualquer um joga no Benfica. No meu tmepo era preciso qualidade"... definitivamente ele não joga mesmo nada bem com a cabeça.
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