quinta-feira, 21 de junho de 2012

O dia em que aprendi a não gozar com as pessoas.

Gosto de pensar que no restrito e misterioso Universo dos "apátridas futebolísticos" a minha cadeira à mesa está sempre livre para mim, pois modéstia à parte, eu ocupo lugar de destaque nesta Sociedade Secreta. Convenço-me a mim próprio que sou assim a modos que um guerrilheiro da causa anti-selecções por não ver nelas qualquer chispa ou adrenalina e por sentir que o dever que nos impõem de apoiar a selecção do nosso país é nada mais que uma ditadura repressiva que se ocupa a forçar vontades, querendo colocar uma equipa de jogadores aleatoriamente escolhidos, a maioria dos quais sem qualquer ligação umbilical a mim, na mesma posição de carinho que o meu Glorioso Clube ocupa no meu órgão bombeador de sangue. É assim no inicio destas competições internacionais organizadas para manter ocupados os jornalistas desportivos do Mundo inteiro, que eu deixo crescer a barba, pego o meu charuto, encosto-me no sofá e grito "Hasta lá pré-época siempre".

Como qualquer espírito revolucionário comunista, também o meu sentimento militante apátrida não nasceu comigo, foi-se desenvolvendo com o passar dos anos. Che Guevara, por exemplo, na adolescência devia ser todo de direita, até jogava rugby qual militante da juventude social democrata. Lenine por seu lado vem de uma família extremamente religiosa, quase podendo ter sido membro da juventude popular. Talvez o único comuna em todo o Mundo que tenha nascido logo vermelho tenha sido Álvaro Cunhal, cujo espermatozóide não terá ganho a corrida com os outros milhões, tendo antes sido eleito por todos eles para os representar e defender os direitos do "espermatozóide trabalhador". Já o caso da Odete foi diferente, pois o seu pequeno nadador limitou-se a vencer a competição "Vai e Faz-te Homem"... falharam por pouco... 

E eu também assim nasci, português e fão da selecção. Tive caricas com a careca do Jaime Pacheco estampada na borracha vedante no fundo da mesma por alturas do Mundial Mexicano. Revi-me na selecção do Jorge Plácido, do Jaime Mercês ou do Adão. Desesperei com a primeira de muitas derrotas que vi de Portugal contra os gregos (ir ao berço da democracia apresentando no banco o maior facínora pós-fascista Português desde o tóni salazar não foi muito esperto). Coloquei as mãos na cara com a bomba de Dino Baggio nas antas meses antes da "porcaria". Acompanhei empolgado o Euro96... e foi tudo. Despedi-me deles e fui feliz para sempre... apesar de ter sido nesta última competição que eu aprendi a não gozar com ninguém... pelo menos com ninguém minimamente inteligente... com lagartos e com o postiga pode-se gozar na mesma que não vem mal nenhum ao mundo e eles parecem gostar.

Foi nesse fatídico jogo Portugal - Rep. Checa que aprendi as agruras do zombamento infeliz. Depois de 52 minutos a fazer pouco e muito do nome "Poborsky" o rapaz sacou de um golpe de génio e obrigou-me a meter a viola no saco. Não que fazer um chapéu ao baía seja grande feito, afinal de contas, o Isaías já lhe tinha feito golos de toda a maneira e feitio, incluindo um quase do meio campo nas antas... mas efectivamente, durante 52 minutos foi "Pobroche, Pordosky, Pobochi, Caralhe Póbroche, etc etc." Aos 53 minutos passou a ser "olhem lá... nós não temos extremo direito de jeito no SLB, pois não"? E não tínhamos e por isso passados longuíssimos ano e meio com a posição 7 entregue a estrelas como Panduru (na táctica do pirilau), Taument (que parecia um dos aborígenes amigos do Crocodile Dundee) ou Edgar (o puto que inventou a máxima de "andar 128 passos para trás para dar 1 à frente" quando quis evoluir na carreira passando do SLB para o real madrid C) eis que chegou ao Glorioso "O" extremo direito.

Ainda hoje, passados 11 anos sobre a sua partida, mantenho o habito de me benzer e pedir perdão a S. Eusébio por ter gozado com Karel Poborsky. Não o faço por ter ficado especialmente afectado com o guarda sol que ele enfiou no baía, mas sim porque recordo com saudade aquele estilo cavalar de correr,  crina loira ao vento, olhos na linha de cabeceira, joelhos a subir quase até ao peito, em trote perfeito pela ala direita Benfiquista... ou a fugir da esquerda para o meio, galopando quase um hectare de relva, sentar 2 bracarenses, cheirar o medo do jakim e atirar a contar.... porque túneis de calcanhar a egipcios-holandeses já era só para entrar no campo da pirraça "isto era o que eu te fazia por teres gozado com o meu nome... pigmeu caixa de óculos..."... caramba, este Euro nunca mais acaba para darmos inicio à pré época?

1 comentário:

César disse...

Pois é,nunca mais acaba.E anda tudo frenético com a«bola».Gente que nem sequer gosta de futebol e que não sabe distinguir 1 defesa esquerdo de 1 Emerson.