quinta-feira, 12 de julho de 2012

Carlos Martins tri-polar

A época tem começado como de costume, aos trambolhões. Mas parece que nem tudo é mau, pois diz-se por ai que o erro que foi a dispensa do Carlos Martins vai ser emendado, e que o rapaz é bem capaz de renovar com o Meu Clube, de modos a ficar ligado ao clube até que o Ser Humano pouse em Marte, prevendo-se que seja mesmo ele o capitão da primeira equipa do Glorioso a disputar um jogo no planeta que lhe pertence, o Vermelho.. A noticia agrada-me porque o Carlos Martins também me agrada... calma, não é fisicamente... apesar daqueles gémeos e dos triceps bem trabalhados... e aqueles abdominais... bom, continuando... gosto do Carlos Martins, mas sou o primeiro (único?) a assumir sem problemas que num Mundo perfeito o pai do Gustavo não era jogador para o SLB. Técnica e tacticamente está uns dois ou três furos abaixo do que deve ser considerado o limiar do "jogador de Benfica", o que no fundo significa estar trezentos e setenta e quatro mil quinhentos e vinte e nove furos acima do defunto Emerson (paz à sua alma... glória in excelsis deo).

Sendo um jogador ligeiramente limitado técnica e tacticamente, Carlos Martins tem o dom de disfarçar muito bem a coisa. Ele é mesmo tão bom no disfarce que todos os anos espero vê-lo como rei do carnaval de Oliveira do Hospital. Quer dizer, se calhar já foi, mas estava para aí disfarçado de Claudia Vieira ou de Maya, sugerindo eu estes exemplos só porque eu o acho tão bom no disfarce que tenho a plena certeza de que se conseguiria disfarçar tanto de um ser humano bonito como de um bloco de apartamentos de habitação social feio, sem que colocasse em causa toda a qualidade da camuflagem. Através deste camalionismo Martiniano, quase Bowieano (e esta minha capacidade de inventar três palavras numa frase de seis, hein?) ele consegue com que até hoje toda a gente o veja como um jogador bastante dotado tecnicamente, com ligeiras desconcentrações tácticas, levando a malta ao engano de julgar que as trinta e duas perdas de bola a cada quarenta que passam pelos seus pés, sejam apenas fruto de incompreensão dos colegas. Na verdade (e aqui bebam um copinho de água e sentem-se, porque vem lá revelação bombástica) esta sua capacidade de camuflagem deve-se ao simples facto de Carlos Martins ser um homem de heterónimos, quase um Fernando Pessoa dos relvados, o que vendo bem as coisas é capaz de ser verdade... o Carlos tem dias tão inacreditavelmente maus que me parece uma mistura de Fernando Alexandre e Ricardo Pessoa, sendo que junta à técnica do Fernando a qualidade táctica do Pessoa... grave, muito grave. Portanto, quereis vós, ignóbil leitor sugador de conhecimento, saber quais os heterónimos do nosso jogador... pois apontai-de na vossa rudimentar sebenta:

Carlos - é o chefe de família, o pai extremoso. O orgulho da mãe que monopoliza todas as conversas de cabeleireiro com "ah o meu filho fez isto... ah o meu filho fez aquilo... ah o meu filho tem que fazer tudo lá em casa porque a minha nora só quer sentar os presuntos no sofá e ver novelas". É aquele com quem toda a sogra sonha casar a sua filha, porque ele tem dinheiro e tem um carrão e tem um casarão e tem dinheiro e tem um carrão e tem um casarão e tem dinhei... entenderam, certo? Carlos muito resumidamente foi aquele rapaz que conseguiu fazer os Portugueses jorrar mais sangue das veias desde a Guerra Colonial, num raro momento de união nacional (Guerra Colonial e união nacional na mesma frase é coisa muito pouco original, certo? Se tiverem dúvidas perguntem aos súbditos de urgel horta ou de góis mota).

Martins - é o puto da escola, o teenager inconsciente. Martins passa intervalos inteiros a jogar à bola e a andar em cima dos muros da escola, isto até ao dia em que cai do muro e racha a cabeça. Todos os dias tenta afundar na tabela de basket em contraplacado... só o consegue no segundo semestre, ou seja, depois das chuvas e do calor... o contraplacado está podre... partiu... encarregado de educação chamado à escola. Martins é o rebelde da turma, o popular "palhaço" por quem as miúdas suspiram que consegue disturbar os 45 minutos de aula (portanto, eu... sem os suspiros femininos). Sim, ele é o que pede canetas emprestadas e tem um caderno de capa preta dobrado no bolso de trás das calças, que serve para todas as disciplinas. Martins fuma atrás do pavilhão desportivo... e inspira perigo.

Carlos Martins - é o jogador da bola. Carlos Martins é uma mistura do Carlos carregado de drunfos na carola e do Martins acabadinho de ter um exame anulado devido a cábulas. É o gajo que recupera uma bola no seu meio campo num carrinho vigoroso após ter ido cobrir a subida do central no campo, arranca numa cavalgada de 30 metros e chuta de fora da área... isto num contra ataque de 10 contra 1 (no SLB de Jesus não é utópico surgir um contra ataque com a presença massiva da nossa equipa), depois do único defesa ter ficado para trás. Carlos Martins é aquele alucinado leva aequipa às costas, decide um jogo com 2 golos e a 5 minutos do fim é expulso por jogar a bola com a mão no meio campo (been there, done that). É um poço de emoções: chora quando marca um golão numa fase delicada da vida ou dá duas voltas ao relvado quando faz uma básica assistência para um golo contra a sua antiga equipa. Carlos Martins é o jogador que o SLB tem na sua vasta lista de contratados, que está mais próximo de ser um adepto dentro do campo. 

Que interessa se ele adormece a ver vídeos do Zidane e os tenta imitar estapafurdiamente? Que interessa se tacticamente ainda nem ele nem ninguém entendeu bem em que posição joga? Carlos Martins inventou a expressão "esperar o inesperado" e para mim isso chega para jogar no SLB.

2 comentários:

Pêro Botelho disse...

Para além da habitual qualidade estética (que é como diz, do texto muito bem esgalhado), uma frase que diz tudo: "Carlos Martins é o jogador que o SLB tem na sua vasta lista de contratados, que está mais próximo de ser um adepto dentro do campo." Precisamente por isso, Carlos Martins fez-nos muita falta na época passada. Precisamente por isso, a malta gosta dele e sente-o como nosso, apesar dele ser originário do zbordem (coitado, pá...). Sendo capaz de transportar para o relvado a paixão demencial dos adeptos,´Carlos Martins contribui tanto para galvanizar os colegas como o Aimar a torcer três adversários e a assistir para golo.

Constantino disse...

É, esgalhar é o meu departamento :)

Abraço